segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Espanha e suas DOs...

    A degustação dos novos vinhos espanhóis importados pela Casa Rio Verde trazia um duplo desafio: a superação de meu exíguo conhecimento a respeito das diversas denominações de origem espanholas e minha prevenção particular em relação à Garnacha e seus intensos aromas de alcaçuz. Conduzido pela simpática enóloga Márcia Carcano, o encontro apresentou quatro diferentes DOs e vinícolas por meio de oito vinhos. Vamos a eles:       

- Logo de início, o maior desafio: a DO Campo de de Borja, região de forte produção de Garnacha e casa da Bodegas Borsao. A primeira proposta, o Campo Castillo Rosado, mostrou-se muito fresco e alegre, cheio de notas de cereja e alguns toques florais. O Monte Oton, um varietal Garnacha que vem recebendo pontuações consistentes de diversos críticos, seria o grande teste. Lá estava ele, o temido alcaçuz xaroposo, ladeado, contudo, por uma bela nota de chocolate. O resultado final é bem interessante, já que o alcaçuz, ao invés de se comportar como estrela, ajuda a compor um panorama pastoso estilo bolo de chocolate. Em breve, teremos uma análise mais detida do Monte Oton e considerações a respeito de minha complexa relação com a Garnacha.

Monte Oton e seu criativo rótulo - Crédito: Regina Perillo Comunicação








- A Bodegas Arroyo nos traz, diretamente de Ribera del Duero, duas propostas 100% Tempranillo. O primeiro, o Señorio de Sotillo Joven 2011, mostrou um belo amálgama entre expressão frutada, frescor herbáceo e discretos lampejos de carne crua. O Señorio de Sotillo Crianza 2008, por sua vez, passa por estágio de 16 meses em carvalho francês e americano e descansa por mais um ano em garrafa antes de sair para o mercado. Logo no visual já notamos sinais de evolução. No nariz, a madeira me pareceu exagerada. Debaixo dela, deu para sentir alguma fruta, mas nada de particularmente empolgante.


Señorio de Sotillo - Crédito: doiberica.com









- Almansa é uma pequena DO do sudeste da Espanha. Lá, as estrelas são a Garnacha e a Monastrell. O La Huella de Adaras foi o primeiro vinho da Bodegas Almanseñas, composto por 60% Garnacha, 30% Monastrell e 10% Syrah. Há estágio de 6 meses em carvalho francês. Um dos mais interessantes vinhos da noite, mostrou belas notas minerais-herbáceas combinadas a um certo defumado estilo salame. O La Vega de Adaras 2007, composto por 60% Garnacha e o restante de Monastrell, passa 14 meses em carvalho francês e provém de vinhedos com idade média de 30 anos. Mais complexo, traz um frutado maduro combinado com terra molhada, especiarias (louro) e um contido alcaçuz. Muito bom.


O La Huella de Adaras foi uma agradável surpresa - Crédito: Oro Rojo Vinos










- Por fim, o Priorat. Uma pequenina e badalada DO da Catalunha que costuma fazer vinhos densos e complexos. A produtora que representou a região, a Vinícola del Priorat, congrega quatro cooperativas locais. O L’Obaga 2010 é composto por 60% Garnacha e 40% Syrah. Não há passagem por madeira. De início, mostrou-se muito fechado e pouco expressivo. Com o tempo, surgiram algumas notas de frutas e alcaçuz. Não impressionou. O Clos Gebrat Crianza 2009, por sua vez, é daqueles vinhos que te põem para pensar. O corte de 35% Garnacha, 35% Carignan e 30% Cabernet Sauvignon passa doze meses em barris de carvalho de primeiro e segundo uso. No nariz, traz belas notas de frutas secas, nozes e uma agradável madeira que engloba o todo. Em boca é denso e pastoso. Mesmo contando apenas três anos, tem um perfil complexo, calmo e meditativo. Eis aí uma DO que vale a pena conhecer.


O magnífico Clos Gebrat Crianza - Crédito: Quality Wines of Spain


    Ao fim e ao cabo, a experiência serviu para mostrar o quanto pode ser difícil a tarefa de navegar por diversos vinhos provenientes de regiões para mim tão desconhecidas. A complexidade da missão de reportar as percepções sensoriais aumenta exponencialmente quando nos deparamos com tantas cores, aromas e gostos novos. Ao final, ainda que guiados pela experiente Márcia Carcano, a sensação é de curto-circuito sensorial.

    Mais uma vez, reitero os agradecimentos ao pessoal da Casa Rio Verde por viabilizar essa belíssima experiência!

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