quinta-feira, 4 de julho de 2013

Uma noite com a Lídio Carraro e o vinho da copa!

   Em mais um dos já célebres eventos da Casa Rio Verde, tivemos a oportunidade de conhecer as propostas da Lídio Carraro, vinícola fundamental no recente processo de melhoramento gradual do vinho brasileiro. A autointitulada “vinícola boutique” produziu sua primeira safra em 2002 e, atualmente, graças a uma combinação de dedicação técnica e ampla divulgação, desfruta de amplo reconhecimento internacional. A filosofia da casa, com a qual me identifico plenamente, é a busca da máxima expressividade de uva e terroir. Esse objetivo levou à renúncia ao uso de madeira em toda a gama da vinícola, atitude a um só tempo louvável e corajosa, tendo em vista como o gosto madeirístico exacerbado está difundido na América do Sul. Surpreendentemente, como veremos, a falta de madeira não faz falta alguma, nem mesmo nas propostas mais estruturadas, destinadas a longos períodos de estágio em garrafa. Os simpáticos representantes da vinícola, o diretor comercial Juliano Carraro e a enóloga Mônica Rossetti, ressaltaram que não nutrem nenhuma desconfiança inata ao uso de madeira e que optaram por essa filosofia por preferência pessoal. Aos múltiplos prêmios e reconhecimentos internacionais obtidos, juntou-se, recentemente, o licenciamento da vinícola pela FIFA para produzir o “vinho da copa”. Trata-se do projeto Faces, que analisamos a seguir:


Faces Branco 2012 - Temos aqui um corte em proporções iguais de Chardonnay, Moscato e Riesling Itálico. Segundo Mônica, trata-se das três uvas brancas mais representativas do sul do Brasil. Visual levemente dourado, pálido. No nariz, uma belíssima explosão refrescante de flores com alguma fruta branca discreta ao fundo. A exuberância mostrada nos aromas infelizmente não continua em boca, onde pareceu algo perdido, sem muita expressão, leve e tranquilo por demais. Talvez uma pitada a mais de Chardonnay lhe fizesse bem. Ainda que o descompasso entre nariz e boca seja evidente, é um bom branco para beber descompromissadamente.



Faces Tinto 2012 - Esse é, talvez, um dos projetos mais curiosos de que já tive notícia recentemente. Uma vez que, em um time de futebol, temos onze jogadores, Mônica resolveu conjugar onze diferentes uvas para criar uma espécie de Chateauneuf-du-Pape tupiniquim. Como se não bastassem as onze uvas, imagine que uma delas é a Teroldego, variedade não muito conhecida nem mesmo em sua terra natal, a Itália. A experiência já vale só pelo pioneirismo! Segundo Mônica, a Merlot e a Cabernet Sauvignon dominam o blend, com as demais uvas contribuindo com nuances aromáticas e estrutura em boca. No visual, um rubi opaco, impenetrável. No nariz, temos um grande baralho aromático: baunilha, violetas, frutas negras (ameixa, groselha preta), algo herbáceo estilo grama. Muito interessante e, ao mesmo tempo, difícil de descrever com precisão. Em boca é agradável, corpo médio, frutado e redondo, sem maiores complicações. Muito interessante, certamente tem potencial para deixar confusos muitos daqueles que têm ideias fixas sobre tintos brasileiros.

 

Dádivas Chardonnay 2012 - Já tinha ouvido falar muito bem sobre essa linha Dádivas e pude, finalmente, conhecê-la de perto. Coloração intensamente dourada-amarelada. No nariz, muita fruta branca (pêra, maçã-verde) madura, polpuda e carnuda. Por vezes, algo de maracujá também aparece. Em boca, repete todo o comportamento e o perfil aromáticos: um vinho gordo e suculento, com um bocado de açúcar residual. É como mastigar uma salada de frutas brancas com mel. Uma delícia, já que não falta acidez para contrabalançar o açúcar. Um belíssimo exemplo de como é possível fazer Chardonnays corpulentos sem recorrer a longos períodos em madeira.


Dádivas Pinot Noir 2012 - A Pinot sempre foi, e acredito que sempre será, um grande mistério para mim, já que tive pouquíssimas oportunidades de provar bons vinhos feitos com ela. Trata-se de uma variedade que simplesmente não conheço bem. De todo modo, tive a oportunidade de expandir um pouco mais minha bagagem pinorística com este Dádivas, rapidamente incluído pela Mônica nos trabalhos degustativos. Visual rubi bem leve e translúcido, que reflete o jeito Pinot de ser. No nariz, mudava rapidamente a cada vez que eu o provava. Ora estava vegetal, lembrando menta, ora frutado, com algo de cereja, ora um certo couro aparecia. Fiquei confuso. Em boca pareceu menos misterioso, trazendo calma e pacificamente frutas vermelhas. Leve e agradável, sem parecer um Syrah nem desaparecer feito água, como muitos Pinots mal-feitos.

Agnus Cabernet Sauvignon - Já havia provado essa interessante proposta de entrada da Lídio Carraro. Visual rubi intenso, quase completamente opaco. No nariz temos frutas negras maduras e especiarias (pimenta do reino). Segundo Juliano e Mônica, o objetivo aqui foi evitar o excesso de pirazinas, substância responsável por conferir ao Cabernet Sauvignon o aroma verde de pimentão. Realmente, não havia nada de exagero nesse sentido. Em boca, tem corpo médio, trazendo a esperada expressão frutada. Taninos macios e final médio. Bom vinho.    


Elos Touriga Nacional/Tannat 2009 - Subindo a cadeia hierárquica da Lídio Carraro, encontramos esse Elos, projeto que visa a unir duas variedades de uvas. Segundo Mônica, o Cabernet Sauvignon/Malbec é a proposta mais tradicional, enquanto o Touriga Nacional/Tannat é uma aposta mais inusitada. Provamos este último. Visual estupendamente opaco, sem qualquer halo aquoso. No nariz, um caminhão de notas especiadas como louro e alecrim juntam-se a violetas e solo de floresta. Muito vegetal/terroso, traz, por vezes, algo de musgo e couro. Em boca, muita fruta negra combinada a café, é denso, com muito corpo e estrutura. Final longo, com taninos bem amaciados. Deixando resíduos e manchando toda a taça, este Elos mostra o quão impressionante pode chegar a ser um trabalho sem absolutamente nada de madeira!


Grande Vindima Merlot 2006 - Ao final, não poderia faltar esta célebre linha da Lídio Carraro, responsável por grande parcela de seu sucesso internacional. Elaborado apenas em safras realmente merecedoras, o Grande Vindima vem em três versões: um blend de Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat, denominado Quorum; um Tannat e um Merlot, que provamos. No visual, uma combinação de rubi intenso e opaco, no centro, com claros halos alaranjados, que denotavam evolução. No nariz, um complexo perfil com frutas secas, couro, ferro, ferrugem e um indecifrável elemento que conjugava notas terrosas, algo como uma caverna com musgos e minério. Em boca, traz múltiplas camadas de frutas como ameixa e amora junto a café e couro. Final longo, macio, agradável e equilibrado.  

Mais uma vez, só resta mesmo agradecer ao pessoal da Casa Rio Verde por mais uma oportunidade de aprender com um produtor nacional de primeira linha!

Toda a família Lídio Carraro



Alessandra Esteves disse...

Gostei do post parabéns! Mas engraçado, degustei o Faces branco e realmente me surpreendeu, tanto nos aromas, quanto em boca. Confesso que degustei o vinho com temperatura um pouco mais elevada do que o recomendado. Talvez isso tenha feito a diferenca.Veja o post em:

http://blogdovinho.com/2013/06/28/degustei-em-primeira-mao-o-vinho-da-copa-2014-faces-da-lidio-carraro/


Abracos e sucesso,

Alessandra

Fábio Baptista disse...

Muito obrigado, Alessandra!


Realmente, creio que pode ter sido um problema de temperatura muito baixa. Vale a pena provar de novo!

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